RODOPIAR E VARRER O CHÃO
De: Ysolda Cabral
Cansei de usar a música como ‘’auto-ajuda’’ nos
engarrafamentos das avenidas, ruas e estradas da vida. Quero a música alta,
espalhada pela casa de forma que, esteja onde estiver escute sem falhas e possa
dançar, cantar e até gritar de prazer pelo dom da audição, da movimentação, da
sensibilidade e da capacidade de jogar tudo para o alto e recomeçar.
Ah! Eu amo a música tanto quanto amo o Mar, a minha pequena
jardineira de Hortelã e a minha filha – não sei se aqui caberia o amor também
de mãe, uma vez que este é único. Mas, enfim...
Amo a música de forma tão intensa que fico indefesa e sei
que ela pode me fazer sorrir, cantar, bailar e chorar de alegria, tristeza ou
saudade sem nenhum pudor, isso em qualquer lugar e circunstância.
Quero escutar a música bem alta e lavar os lençóis de minha
cama festejando a solidão. Depois seguir para a pia e lavar os pratos, os
talheres e os copos, jogados em cima do balcão, sem ter que dá nenhuma
satisfação.
Fazer da vassoura uma parceira na dança e sair com ela
rodopiando e varrendo o chão.
Quero ouvir a música que me deslumbra e me faz até sentir
saudades de fazer uma boa faxina.
Nossa, meu caso é mesmo sério!
- Será de internação?
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Publicado no Recanto das Letras em 10/07/2012
Código do texto: T3770796