DEPRESSÃO - O MAL QUE VEM DE LONGE
De: Ysolda Cabral
Lúcia era a cliente mais assídua no salão de beleza mais
próximo de onde morávamos. Todos os sábados era a primeira a chegar e, claro, a
primeira a ser atendida. Fazia limpeza de pele, cabelo, unhas... Falava pelos
cotovelos e ao se sentir pronta e bonita ia embora toda feliz e satisfeita da
vida.
A paciência da manicure Gilca sempre me chamava atenção,
pois Lúcia nunca sabia qual esmalte usar. Ora escolhia um, e, depois das unhas
prontas mandava tirar alegando ter se enganado em sua escolha. Isso acontecia
sempre, às vezes duas ou três vezes na mesma manhã. E ninguém dizia nada. Isso me impressionava ainda mais.
- Até eu ficava calada!
O fato é que apesar de toda ''patricialidade'' da Lúcia, gostávamos
dela. Sua conversa era agradável e divertida. O fato dela ''se achar'' não a
prejudicava em absolutamente nada. Até
era bem legal e ela podia.
- Era bonita mesmo!
De repente começamos a notar sua ausência no salão, no
colégio, nas matinês dançantes das tardes de domingo... Segundo Gilca,
raramente ela aparecia e quando isso acontecia era apenas para fazer as unhas e
ia embora sem dizer palavra.
Hoje ao receber um ''e-meio'' sobre depressão não sei qual a
razão, lembrei de Lúcia.
O que será que aconteceu com aquela moça tão linda, vaidosa
e cheia de vida que conheci em minha meninice?!
Publicado no Recanto das Letras em 25/04/2012
Código do texto: T3632428