sexta-feira, 2 de julho de 2010

O SÃO JOÃO DO ANDERSON

O SÃO JOÃO DO ANDERSON
De: Ysolda Cabral



Todos sabem que sou, com muito orgulho, do “País de Caruaru”. Moro em Recife há um bom tempo, e, claro que sou uma forrozeira de primeiríssima qualidade. Até passo o ano inteiro esperando o São João para desenferrujar!

As festas organizadas pela empresa que trabalho são espetaculares. Especialmente a festa junina que é show de alegria, forró, muita pamonha, canjica... Enfim, são festas parecidas com as da minha terra quando elas eram realmente muito legais. Hoje, parece Carnaval!

Entretanto, a deste ano aconteceu no último dia trinta. Não pude comparecer e não lamentei, pois gosto do São João no tempo certo. Os organizadores até tentaram realizá-la antes, mas não deu. Os espaços foram locados com bastante antecedência.

Pois muito bem; ontem (01/07) ao chegar para trabalhar, logo vieram me contar as novidades. A que mais curti e lamentei não ter presenciado foi a seguinte:

Anderson, garotão de vinte e poucos anos, com deficiência auditiva, funcionário contratado há pouco tempo, resolveu convidar sua mãe para lhe acompanhar na festa junina em questão. Ela, por sua vez, convidou o marido, o tio, o papagaio, o cachorro, o gato... (Rsrs) Lá chegaram todos muito animados.

A mais animada era justamente a sua mãe, a qual tratou de imediato “cair” no forró, esquecendo de tudo o mais. – É forró tem dessas coisas!

Lá pelas tantas, com o pai e o tio um tantinho “altos”, Anderson cansado e com um sono danado, chamou a mãe para irem embora. Ela, de pronto lhe mandou dormir no carro – acho que na cabeça dela, naquele momento, ele tinha 10 anos, e, se não tivesse, deveria ter. (Rsrs)

Anderson, indignado e exasperado, recorreu ao sanfoneiro:

- Ô seu moço, vai parar de tocar de que horas?!!!

O sanfoneiro com as mãos no “fole” respondia e ele nada ouvia e/ou entendia, mesmo com o volume do aparelho auditivo no ponto máximo. Depois de muita peleja, desistiu e olhando a tomada que ligava os instrumentos musicais com verdadeiro ódio mortal, sentiu uma enorme vontade de puxar e acabar de vez com a festa.

- Que custo foi se conter!

Resolveu procurar, novamente, sua mãe para intimá-la a ir embora de uma vez por todas. E, ao se deparar com ela tão linda, dançando feliz igual a uma adolescente; sua raiva, seu cansaço desapareceram e cheio de orgulho, ternura e amor, desistiu de ir embora. O cansaço e o sono tinham evaporado.

A nossa amiga Tê Lima, que nunca deixa escapar nada, de pronto lhe perguntou:

- Então a festa foi boa, né Anderson?”

Ele, imediatamente, em cima da bucha, lhe respondeu:

- Não! Bom foi voltar dirigindo pra casa, com todo mundo bêbado e dormindo. Eu pude cair em todos os buracos da estrada sem nenhuma reclamação.

É isso aí, Anderson!! No próximo ano você vai ter que esperar por mim e pela sua mãe, pois só sairemos de lá com o raiar do dia, viu?! Hahahahahaha
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Publicado no Recanto das Letras em 02/07/2010
Código do texto: T2353535